quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Estações.




Perdi-te de vez no embalo do meu cantar
Rasguei-te tudo o que tinhas
O peito e as andorinhas
Que na Primavera se faziam alegres ao mar
Sei que os caminhos são diferentes agora
Que o meu coração inquieto está vazio
Não sinto nada, nem mesmo aquele rio
Que no Outono corria sem nunca se ir embora
Queria o tempo todo novamente
Um sorriso, um olhar apenas
Talvez um jardim de açucenas
Que no Verão me fazia saltar desejoso e quente
Morrerei um dia sozinho
Perto demais de todas as lembranças
Entre versos de veludo, lágrimas e danças
Que este Inverno sou eu, em solidão de mansinho.

Pedro Branco...
eu gostaria muito de ter escrito esse texto!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Amor de Longo Alcance



Durante sete anos , separados pelo destino, amaram-se a distância. Sem que um soubesse o paradeiro do outro, procuravam-se através dos continentes, cruzavam pontes e oceanos, vasculhavam vielas, indagavam. Bússola de
longa busca, levavam a lembrança de um rosto sempre mutante, em que o desejo, incessantemente, redesenhava os traços apagados pelo tempo.

Já quase nada havia em comum entre aqueles rostos e a realidade, quando enfim, num praça se encontraram. Juntos, podiam agora viver a vida com que sempre haviam sonhado.Porém cedo descobriram que a força do seu passado amor era
insuperável.

Depois de tantos anos de afastamento, não podiam viver senão separados, apaixonadamente desejando-se. E, entre risos e lágrimas, despediram-se, indo morar em cidades distantes.

Marina Colasanti

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

...



estamos sós entre a memória da infância e a estação do esquecimento. como se entrássemos a meio da viagem. sem ninguém nos perguntar o destino.

medimos o tamanho da vida pelo consumo do tempo. e nem por isso suspendemos a respiração.

no instante de um pulsar uma ave bate as asas. uma árvore tomba fulminada. o corpo apaga-se como uma vela. e isto é tudo.

nada sabemos do sono que nos destina o relógio alojado no peito. nem do destino reservado às cinzas.

Maria José Quintela