quarta-feira, 26 de março de 2008

A inocência do amor.



Aquilo que de verdadeiramente significativo podemos dar a alguém é o que nunca demos a outra pessoa, porque nasceu e se inventou por obra do afeto. O gesto mais amoroso deixa de o ser se, mesmo bem sentido, representa a repetição de incontáveis gestos anteriores numa situação semelhante. O amor é a invenção de tudo, uma originalidade inesgotável. Fundamentalmente, uma inocência.

Fernando Namora, in 'Jornal sem Data'

quinta-feira, 20 de março de 2008

Sonho criado...




(…)

Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espectáculo que posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso, cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis.

(…)

Livro do Desassossego – Fernando Pessoa

domingo, 16 de março de 2008




É, no mínimo,corajoso o ato de acomodar-se no silêncio e olhar a própria vida...
Buscar lá atrás respostas para uma inquietação permanente e descobrir quantas equivocadas escolhas nos levam à situações indesejáveis e sem volta...

sábado, 15 de março de 2008

Quanto ao futuro...



Todo espírito preocupado com o futuro é infeliz. O mais corriqueiro dos erros humanos é o futuro. Ele falseia a nossa imaginação, ainda que ignoremos totalmente onde nos leva.

Quando pensamos no futuro, nunca estamos em nós. Estamos sempre além. O medo, o desejo, a esperança jogam-nos sempre para o futuro, sonegando-nos o sentimento e o exame do que é, para distrair-nos com o que será, embora o tempo passe e já não sejamos mais.


Montaigne

sexta-feira, 14 de março de 2008




"Há duas formas de se enganar:
Uma, acreditar naquilo que não é;
Outra, recusar-se a acreditar naquilo que é"


Kierkegaard

quarta-feira, 12 de março de 2008

E se te encontrasse?



E se te encontrasse? Mesmo que no meio de uma grande multidão te descobriria. Dir-te-ia que tudo isto era uma mentira e que estava feliz por ti. Que podia ser o padrinho do teu filho. Que me refiz sem retalhos e estou bem. Que não ando a fugir nas palavras ou nos poetas. Que afinal, o tempo existe e é eternamente irreversível.

Sim. Se te encontrasse? Seguramente estarias tão surpreendente que o dia ficaria mais quente. Iria direito a ti, a vós, com o olhar húmido das noites suadas e mentirosas. E depois? Talvez te diga "Bom dia..." ou "Olha! Quem está por cá!!!" ou
"Afinal existes... por isso ando morto!"

Pedro Branco

domingo, 9 de março de 2008

As Palavras.



Se escrevo não é para procurar a minha voz
a minha voz está em toda a parte embora não a ouça
É sempre precisa uma palavra como quem acende uma lâmpada
mesmo que seja apenas para iluminar uma página branca

Talvez só o leitor descubra a terra das palavras
e a voz que não é a minha como a voz do outro
Só ele talvez sinta a ferida que em mim não dói
porque escrever é sempre ir além do que se sente ou não

Não escrevo para ascender ou mergulhar no fundo
mas para evitar uma queda ou atolar-me num charco
Se o mundo é composto de apelos sufocados e vertiginosas linhas
quando o escutamos nada mais ouvimos do que o rumor da ausência
e não sabemos se ela é a dimensão do silêncio
ou a lentidão alheia do deserto


António Ramos Rosa

quinta-feira, 6 de março de 2008

O mar,o cacto,o sol, os pombos.



"...Agarra-te ao teu fiozinho de esperança, experimenta. Começa a preparar a mão, coisa que contigo leva tempo. Tenta que aquilo que existe em qualquer parte tua caminhe na direção certa onde as palavras te esperam, adormecidas. Acorda-as devagarinho, não escutes os passos da insônia, tac, tac, tac, no corredor. Tens 10 anos, 20 anos, tens todas as idades ao mesmo tempo, estás cheio de medo mas começa. O mar, o cacto, o sol, os pombos."



[Lobo Antunes -Agora que já pouco te falta]

quarta-feira, 5 de março de 2008

...




Rasgo todos os dias a minha alma em busca das respostas.
Das perguntas que me perseguem em direcção ao futuro.
Umas vezes canso-me e desgasto-me, ficando deitado nas memórias.
Outras avanço em direção ao passo decidido e de mão dada.
A Revolução começa dentro.
Tão dentro que às vezes não se vê.
Ainda bem que me abriste este desassossego e
esta impaciência mais um pouco com este aroma.


Pedro Branco in " Das palavras que nos unem"(blogspot)