segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Entre a vida e os livros...



" A realidade é dolorosa e imperfeita-,dizia-me(minha mãe):- é essa sua natureza e por isso a distinguimos dos sonhos. Quando algo nos parece muito belo pensamos que só pode ser um sonho e então beliscamo-nos para termos a certeza de que não estamos a sonhar- se doer é porque não estamos a sonhar. A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho.Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe.Entre a vida e os livros, escolhe os livros."

O Vendedor de Passados,José Eduardo Agualusa

4 comentários:

  1. Realmente! ... a realidade quando tratada num mundo ficcional, por mais cruel que seja, ainda pode nos aludir a coisas boas, a sentimentos introspectivos e até nos levar a um crescimento como ser humano. Já a realidade vivida além de cruel, machuca, pode nós levar também a um amadurecimento, no entanto, o preço pago nem sempre é condizente com o que cada um pode pagar...
    Pena que a maior parte do que faz a nossa vida é a realidade e não o mundo de fantasia no qual muitas vezes nos refugiamos, quando cansados da dura realidade...
    Abraço!

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  2. crônica de uma vida de desilusões crônicas

    tem gente que nasceu para viver amando a si próprio. tem gente que nasceu para amar os outros. E tem gente que nasceu para não amar ninguém. A menina sabia disso, sabia disso ou pelo menos sabia que o amor tem hora para chegar para durar e para ir embora. é um trem que corta todos os lugares já imaginados como uma espada de samurai, e segue sobre os trilhos da desilusão e ilusão causada pela faísca do ferro dos corações em atrito. a menina tinha pegado esse trem. duas vezes já. a primeira vez ficou no vagão dos contos de fada, desses que não existem. viveu tão feliz sem saber que vivia triste. amou tanto sem sentir aquilo. amou mas nunca teve a prova concreta de que haviam amado-a da mesma forma. ficou presa no vagão da covardia tentando fazer com que seu amado tivesse os colhões para assumir sua paixão. mas ele tinha colhões apenas para outra coisa, e sem êxito, desceu finalmente em uma estação das saudades. ficou perdida nela por muito tempo, nostalgiando o tempo em que julgou viver feliz. da estação da saudade pegou o trem do amor no vagão errado, o vagão do esquecimento. rumou para lugares irreconhecíveis pela sua memória e conheceu um outro mundo novo, um mundo que a fez esquecer. esqueceu com um circo onde o trem parara, ela ria, divertia-se, esquecia. mas ai esqueceu quem era e foi para o vagão da ressaca. da ressaca porque era onde todos se recuperavam depois da farra do vagão do esquecimento. vagão da ressaca porque vinha carregado com tudo, como um mar de ressaca, que traz depois da tempestade, à praia, certas coisas que há muito haviam sido esquecidas. e nesse mar ela achou quem era ela. achou que ela era uma dessas pessoas que nasceram para amar outras pessoas, sem pensar em ser amada de volta. quando deu por si, já estava no vagão da paixão, novamente, mas este era coberto por cortinas, que escondiam os sentimentos que ela julgava ter esquecido no vagão do esquecimeto. foi para o vagão dos sonhos. sonhava com ele, queria ele, imaginava-a com ele. ele, que nasceu para amar a si e a outros, mas tinha esquecido isso. estava preso no vagão do esquecimento, entregue às mentiras boas que a vida nos dá, esquecendo-nos. ela não podia resgatá-lo. aflita, enciumada com o circo em que ele vivia, foi para o vagão das lágrimas. lágrimas caídas por não poder mudar, por não querer mudar. lágrimas de tristeza, de aflição. o vagão da mudança é muito longínquo e difícil de se chegar. e, além disso, é impossível querer mudar quando se vê, de repente, preso no vagão mais escuro e sombrio de todos: o vagão da solidão. não se pode abandonar o trem assim, pois a faísca que estoura em seu coração a diz que ela só saíra desse triste e carcomido vagão, quando ele a tirar de lá. e ela teme que se não for com ele, não será com ninguém. mas ela não quer desistir. corre, com as pernas atadas, para o vagão da espera. pega uma revista, lê, se distrai com outras bocas. mas espera, espera ansiosamente pelo dia em que o trem do amor não fará caminhos tão tortuosos e ela possa se sentar com ele, admirando a vista magnífica lá fora, uma vista a qual é vista por quatro olhos e dois corações, que soltam faíscas no mesmo passo, que movem o trem para o infinito. ela anseia a hora em que se encontrará com ele, para sempre, no vagão da felicidade.

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  3. gigi, escrevi um pouco e queria só mostrar para voce! por favor, de sua crítica sincera! ahahahhahahaha
    to com muita suadades, ainda mais agora que estou caindo na paixão de velhos livross....
    bjoos
    yole

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  4. Minha querida Yole...

    Li seu texto com muita ternura e minha alma ficou feliz, porque vc se tornou uma mulher com alma de menina e de poeta.
    Beijos. Nunca se perca de vc.

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